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domingo, 30 de março de 2014

Querida Morte

Terminei de escovar os dentes e me deitei, as seções de quimioterapia me deixavam fraco, precisava ter uma boa noite de sono.
Foi quando a temperatura do quarto começou a cair, meu corpo começou a pesar, só havia escuridão.
 Sempre achei que este dia chegaria – falei em voz alta, para mim mesmo.
 "Este dia" sempre chega, para todos – foi a resposta, vinda de uma voz feminina.
Fiquei surpreso, mas não com medo.
 Há a possibilidade de isto ser apenas um sonho?
 Se for, é o último que terá – ela respondeu novamente, reconhecia aquela voz.
Senti uma mão fria apertar o meu tórax e, logo após, um beijo suave e penetrante em meus lábios. Pude começar a ver através da escuridão, a imagem na minha frente era de uma mulher branca com seus longos cabelos negros e olhos castanhos profundos, como eu bem me lembrava.
 Por que está zombando de mim usando a imagem da minha mulher? – O rosto dela tinha uma expressão triste.
 Mortais não conseguem ver a minha verdadeira forma, então eles costumam ver o que lhes mais lembram a mim.
Notei que podia me mexer com maior facilidade, agora apenas sentia o frio, mas até ele parecia aconchegante.
 Diga-me: irei encontrá-la do outro lado? Quero dizer, minha mulher.
 Isto não cabe a mim responder, eu apenas venho buscar as almas que não tem mais tempo neste mundo... Agora, levante-se, vamos caminhar um pouco.
Levantei, notei que ela usava um vestido preto longo, era uma replica perfeita de quem fora a minha amada. Olhei ao redor e vi meu corpo estendido na cama, ela deve ter notado a minha tristeza.
 Iremos a um lugar  além do meio físico, não precisará mais do seu corpo.
 Mesmo que não tenha sobrado mais ninguém na minha vida, eu ainda sentirei falta disso tudo...
 Tens algum arrependimento? – Disse ela, com uma expressão de curiosidade.
 Muitos. O maior deles é não ter dado importância à família. Eu sempre dei atenção demais à minha carreira e veja como terminei: um velho rico e solitário, se agarrando aos últimos fragmentos de vida.
 É tarde para arrependimentos. O que está feito, está feito. Venha, temos uma bela caminhada pela frente.
Cheguei mais perto dela e estendi a minha mão. Ela a pegou. Por fim, eu disse:
 Tem razão...
Saímos de mãos dadas para o novo mundo que se desdobrava em minha frente.

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